A Igreja, desde a Idade Média exercia sobre povo um poder que excedia o do Estado. Ela foi a instituição mais poderosa da sociedade medieval do Ocidente, sendo tão rica e temida, a Igreja detinha também grande poder político. Desde esse tempo, a Igreja tem o poder sobre a cultura, tem o poder sobre os seus povos, tem o poder de transformação. A grande dúvida é saber se as escamas estão caindo. Em sua música “Filho de Davi”, David Quinlan clama a Deus para abrir seus olhos: “Filho de Davi tem compaixão de mim, toca nos meus olhos, faz as escamas caírem”. Sei que esse é o desejo que arde no coração de muitos, no entanto, é muito mais cômodo ficar sentando, enquanto os outros leem a Bíblia, expõem o seu ponto de vista e nos apresentam o deus que eles conhecem.As pessoas desejam voltar ao primeiro amor, pois quando se tem a sensação do primeiro amor, ele basta, não há necessidade de poder, de milagres, somente de ser cuidado e ser amado por Deus. E quando essas pessoas tentam voltar a esse primeiro amor, elas dão mais importância às pessoas, o que é fundamental para Deus. Elas deixam de lado as diferenças e olham para a cruz, não esperando mais só o mover das águas.De volta aos dias do Velho Testamento, Deus queria que sua casa, o templo em Jerusalém, fosse um lugar onde as pessoas de todas as nações pudessem ir e orar a Ele com alegria. Será que a igreja que Paulo revela, o templo de Deus que está em nossas vidas, como foi citado em I Coríntios 6:19, ainda existe? Ou se sequer existiu um dia?Ainda existem igrejas que, apesar de suas falhas – que todas têm - acolhem e cuidam do seu povo, se desviam dos escândalos e acolhem a Bíblia como verdade. E quando eu falo igreja, não falo denominação, mas sim pessoas anônimas, pessoas que estão fora da mídia, pessoas que vivem “a casa de oração”, pois cada um de nós é templo, é igreja. E quando perguntarem “ainda existem igrejas que transformam cidades?”, eles perguntarão olhando para nós, pois somos a igreja.É de responsabilidade dos líderes serem exemplos para os fiéis, mas é também responsabilidade sua ser um exemplo para o mundo aí fora. De acordo com o capítulo 10 de João, é responsabilidade dos líderes serem um bom pastor e não um mercenário que quando vê os lobos, foge e deixa as ovelhas. Ele foge porque ele não tem cuidado com as ovelhas. “Nisto conheceram que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Onde está este amor? O amor que ensina, o amor que corrige, o amor que prega a verdade, doa a quem doer. Temos que interpretar a Palavra e depois temos que praticá-la. Isto não é uma tarefa fácil.O mundo tem transformado as igrejas. Não se sabe mais diferenciar o joio do trigo, o sal da terra, eles se confundem com esse mundo secular que se denomina igreja emergente.E eu me pergunto onde fica a história sim, sim, não, não e o que passar disso é maligno.Em Efésios 4:12-13, diz: “ Não deve limitar-se a evangelizar. Mas também levar à maturidade cristã.” Como podemos evangelizar se não conhecemos o que estamos falando? Como vamos chegar a uma maturidade cristã, mostrar a verdade que liberta, se estamos cobertos por escamas humanas?Jesus foi provocado até a ira santa quando ele encontrou a casa de Deus sendo usada como um mercado, ao invés de ser usada como um centro de bênçãos para as nações. E eu imagino esse mercado não como um comércio de vendas e compras, mas um comércio de barganhas espirituais. Esforça-se muito para "vender" o Evangelho. Alardeiam-se os benefícios da fé. Basta observar a enormidade de tempo gasto divulgando os horários dos cultos, a eficácia da oração, mostrando que aquela igreja é melhor e que a sua mensagem é a mais forte para resolver todos os problemas das pessoas. Aborda-se o Evangelho como um produto eficaz e adota-se uma mentalidade empresarial no seu anúncio. Promete-se enormes possibilidades. Trata-se as pessoas como clientes e, sem constrangimento, anuncia-se que qualquer um pode adquirir esse determinado benefício com um esforço mínimo. As igrejas se transformam em balcões de serviços religiosos ou “supermercados da fé”. Como um supermercado com as gôndolas recheadas de produtos, as igrejas procuram incrementar os "serviços" ao gosto dos fregueses.As pessoas, por sua vez, se achegam, seduzidas pelas promoções das prateleiras eclesiásticas. Esse modelo induz as pessoas a adorarem a Deus por aquilo que ele dá e não por quem é. Não se anuncia o senhorio de Cristo, mas apenas os benefícios da fé. Os crentes acabam tratando a Bíblia como um amuleto e, supersticiosos, continuam presos ao medo. Vive-se uma religião de consumo. Jesus dialogou com uma mulher samaritana e ofereceu-lhe uma água viva. A mulher imaginou essa água com raciocínios concretos. Pensou que ao beber nunca mais teria sede. Uma água dessas hoje, devidamente comercializada, seria um tesouro sem preço. "Dá-me dessa água e assim nunca mais terei que voltar aqui". Jesus corrigiu a linha de pensamento daquela mulher. A água que ele oferecia não era uma mágica, mas um relacionamento: filhos e filhas adorando ao Criador em espírito e em verdade. Infelizmente, muitos evangélicos brasileiros propagandeiam a água mágica. Matando a sede de qualquer um no estalar de dedos. Se não voltarmos aos fundamentos do Evangelho, teremos sempre clientes religiosos, nunca seguidores de Cristo.Acredito que Jesus olha para “os compradores da fé” com os mesmos olhos que olhou para a mulher que lhe pediu que curasse sua filha. E ele diz: “Não é justo que tire o pão dos meus filhos e dê aos cachorros”.A frase "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades", de Benjamin Parker, se encaixa de forma significativa neste contexto. A Igreja possui um poder que traz para si uma responsabilidade que, talvez, a mesma não se dê conta. Ela oferece de muitos púlpitos não o evangelho de Jesus Cristo, mas um mero combustível religioso. Alguém disse (infelizmente, não me lembro quem) que “a religião é a água límpida que corre em veias defeituosas”. Mas eu ainda acrescentando que como David Quinlan clamasse a Deus para abrirem seus olhos, as veias continuaria defeituosa, mas pelo menos seria debaixo de um temor pelo que se fala e se faz, abrindo os olhos e deixando as escamas escorregarem.O nome de Jesus tem sido ofuscado pelas variadas denominações que são diretamente responsáveis por isso. E é cômodo ser assim, é mais prático agir dessa forma. É a expressão do poder sem responsabilidade.A Igreja é o sal deste mundo. Conserva, dá sabor e mantém um relacionamento equilibrado. Influencia, jamais é influenciada. Marca presença no mundo e por ele é respeitada. Nas palavras de Jesus, a Igreja, embora parceira do mundo, não se contamina com o seu mal. No fim, o mundo pode até odiá-la, mas por vê-la coerente, haverá sempre de respeitá-la. Esta é a porta para que ele seja transformado. Mas será que a Igreja tem transformado ou está sendo transformada? E com isso, colocando escamas nos olhos “do sal”. Temos que [re]pensar a Igreja, pois o mundo está transformando o sal que tempera, em sal que é pisado pelos homens. E [re]pensar a Igreja que está transformando o mundo, deixando as escamas cada vez mais empoeiradas.

Aquele abraço,

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